terça-feira, 2 de julho de 2013

Consolidando Grau de Escalada


A matemática da escalada nem sempre é exata! Muitas vezes corremos atrás, trabalhamos uma via difícil e mandamos um grau no limite, por exemplo. Ficamos felizes, confiantes. No fim de semana seguinte, em um outro point, tentamos escalar uma via mais fácil do que a que mandamos para aquecer e, para nossa surpresa, a via não sai.

Praticamente todo material sobre treinamento ou evolução fala que devemos escalar no mais diversos tipos de rocha, vias, inclinações, estilos, pois só assim o corpo e mente adquirem um pacote variado de posicionamentos, condicionamento e memória corporal que precisamos. De um local para outro, às vezes até de uma via para outra, a variação de condições é tão grande (aderência, agarras, positiva, negativa, tipo de pegada, vias de força, vias técnicas, etc.) que mesmo que você mande graus mais altos do que aquele, pode não ter o que é necessário para cadenar aquela via. Às vezes treinamos o que é necessário para um via, ou um tipo de via específicos, o que não é ruim, mas pode nos tornar escaladores incompletos.

Lembro bem quando fui para Lençóis, Chapada da Diamantina, Bahia. Na época escalava na casa do 6º, 7º. Entrei em um 5º sup e apanhei muito, pois o estilo de via e de rocha (conglomerado) era muito diferente do que eu estava acostumado. Hoje tenho uma escalada muito mais voltada para paredes do que para esportiva, mas utilizo as esportivas como treino, para não parar a evolução. E por falta de costume, apanho muito de aderências com grau bem abaixo do que estou acostumado, ou com lances de chaminé, por exemplo. Mas com frequência na pedra, treino e ajuda de quem tem mais conhecimento no assunto, vou evoluindo. Tenho, por exemplo, mais facilidade com vias explosivas, de força. Então tenho focado muito em fazer vias técnicas, para tornar minha escalada mais completa.

Uma forma de evoluir constantemente na escalada é consolidar bem um determinado grau. Isto serve tanto para esportiva e boulder, quanto para parede. Se você está começando a escalar, mandando 5º grau, por exemplo, não precisa deixar de tentar os 6º, mas não esqueça de entrar em vários quintos, ter um bom repertório deste grau, um bom conjunto de vias para apoiar a sua pirâmide de evolução. Veja, por exemplo, a pirâmide proposta pelo Eric Horst no seu excelente livro How to Climb 5.12 (leitura que recomendo) para você atingir determinado grau. O mesmo pode ser feito nas paredes. Começou a guiar (ainda mais aqui no Rio que temos uma vastidão de vias deste tipo) vias de II? Faça cinco ou seis vias deste grau, nas últimas, vá arriscando vias com lances de terceiro. Entre no III agora, faça quatro ou cinco vias, e assim por diante.

 
Exemplo de Piramide apresentado por Eric Horst no seu famoso livro How to Climb 5.12.


Agora, o mais importante! Tem uma frase que marcou minha escalada: O melhor escalador é aquele que mais se diverte. Treine, corra atrás de seus objetivos, mas nunca torne isto um martírio. Escalada é para ser o momento de descanso mental, de contato com a natureza, de diversão, este é o melhor termo. Se você se diverte tentando uma cadena, se você se diverte fazendo paredes, se você só quer uma escaladinha despretensiosa às vezes, faça da forma que você se sinta melhor! Não fique noiado com o que você não faz porque o Adam Ondra faz. Não fique se cobrando porque a galera manda V10 e você não gosta de boulder. Faça da escalada um momento de prazer. E boas escaladas!

Bons ventos!

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